segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A origem de @ (arroba)

Os Copistas medievais e o século XXI. Cultura e curiosidades... 

Na Idade Média os livros eram escritos à mão pelos copistas. 

Precursores da taquigrafia, os copistas simplificavam o trabalho substituindo letras, palavras e nomes próprios, por símbolos, sinais e abreviaturas. Não era por economia de esforço, nem para o trabalho ser mais rápido. O motivo era de ordem económica: a tinta e o papel eram valiosíssimos. 

Foi assim que surgiu o til (~), para substituir uma letra (um 'm'ou um 'n') que nasalizava a vogal anterior. Um til é um enezinho sobre a Letra.
O nome espanhol Francisco, que também era grafado 'Phrancisco', ficou com a abreviatura 'Phco' e 'Pco'. Daí que foi fácil o nome Francisco ganhar em espanhol o diminutivo Paco. 

Os santos, ao serem citados pelos copistas, eram identificados por um feito significativo em suas vidas. Assim, o nome de São José aparecia seguido de 'Jesus Christi Pater Putativus', ou seja, o pai putativo (suposto) de Jesus Cristo. Mais tarde, os copistas passaram a adoptar a abreviatura 'JHS PP' e depois 'PP'. A pronúncia dessas letras em sequência explica porque José em espanhol tem o diminutivo de Pepe. 

Já para substituir a palavra latina 'et' ('e'), os copistas criaram um símbolo que é o resultado do entrelaçamento dessas duas letras: &. Esse sinal é popularmente conhecido como ' e' comercial e, em inglês, 
tem o nome de ampersand, que vem do 'and' ('e' em inglês) + 'per se' (do latim 'por si') + 'and'. 

Com o mesmo recurso do entrelaçamento de letras, os copistas criaram o símbolo @ para substituir a preposição latina 'ad', que tinha, entre outros, o sentido de 'casa de'. 

Veio a imprensa, foram-se os copistas, mas os símbolos @ e & continuaram a ser usados nos livros de contabilidade. O @ aparecia entre o número de unidades da mercadoria e o preço; por exemplo, o registo contabilístico '10@£3' significava '10 unidades ao preço de 3 libras cada uma'. 

Nessa época o símbolo @ já ficou conhecido como, em inglês, 'at' ('a' ou 'em'). 

No século XIX, nos portos da Catalunha (nordeste da Espanha), o comércio e a indústria procuravam imitar práticas comerciais e contabilísticas dos ingleses. 

Como os espanhóis desconheciam o sentido que os ingleses atribuíam ao símbolo @, supuseram, por engano, que o símbolo seria uma unidade de peso. 

Para este entendimento contribuíram duas coincidências: 

1- A unidade de peso comum para os espanhóis na época era a arroba, cujo 'a' inicial lembra a forma do símbolo. 

2- Os carregamentos desembarcados vinham frequentemente em fardos de uma arroba. Dessa forma, os espanhóis interpretavam aquele mesmo registo de '10@£3' como 'dez arrobas a 3 libras cada uma'. Então, o símbolo @ passou a ser usado pelos espanhóis para significar arroba. 
Arroba veio do árabe ar-ruba, que significa 'a quarta parte': arroba (15 kg em números redondos) correspondia a 1/4 de outra medida de origem árabe (quintar), o quintal (58,75 kg). 
As máquinas de escrever, na sua forma definitiva, começaram a ser comercializadas em 1874, nos Estados Unidos (Mark Twain foi o primeiro autor a apresentar seus originais dactilografados). 
O teclado tinha o símbolo '@', que sobreviveu nos teclados dos computadores. 
Em 1972, ao desenvolver o primeiro programa de correio electrónico (e-mail), Roy Tomlinson aproveitou o sentido '@' ('at' em inglês), disponível no teclado, e utilizou-o entre o nome do usuário e o nome do provedor. Assim Fulano@ProvedorX passou a significar 'Fulano no provedor (ou na casa) X'. 

Em diversos idiomas, o símbolo '@' ficou com o nome de alguma coisa parecida com sua forma: 
  
Em italiano chiocciola (caracol), 
em sueco snabel (tromba de elefante), 
em holandês, apestaart (rabo de macaco). 
Noutros idiomas, tem o nome de um doce em forma circular: shtrudel em Israel, 
strudel na Áustria,
pretzel em vários países europeus.


Sem comentários:

Enviar um comentário