Conheça Mário Valpaços, poeta, escultor e pintor, homem das artes e das amarguras, figura de Chaves
Já houve tempos em que havia quase uma romaria à casa de Mário Valpaços. Subia-se a estrada de S. Caetano, em direção a Montalegre, e chegava-se a uma casa construída pelo poeta, num terreno com figueiras, cerejeiras e muitos corações - corações de pedra com poemas inscritos. Ia ver-se uma maravilha: a cidade de Chaves em miniatura, feita de pedra e de barro, e tão bem trabalhada que os pormenores esculpidos incluem pessoas a pintar casas ou roupa estendida nas varandas. Hoje em dia, já quase ninguém aparece no sítio de Mário Valpaços, 61 anos, antigo pintor da construção civil, quarta classe feita. A miniatura de Chaves lá está num quarto, coberta com papéis e jornais, fraca proteção para tão admirado trabalho. "É uma injustiça isto estar escondido aqui. Só queria um museu, um espaço onde o povo pudesse ver a minha obra", diz. As fachadas da casa de Mário estão cobertas de poemas que cantam as mulheres, a natureza, a terra que o viu nascer. As pedras do monte também. No interior da habitação, encontram-se bustos de figuras que o artista aprecia, como o de Afonso Henriques ou o do republicano António Granjo, assassinado na Noite Sangrenta de 1921, escultura em que está a trabalhar. As paredes estão cobertas de dezenas molduras com fotografias de figuras públicas. Mas há uma que se destaca: Aristides de Sousa Mendes, o cônsul português em Bordéus, que salvou milhares de judeus dos campos de concentração nazis. Aristides viria a morrer na miséria e a sua história toca Mário Valpaços profundamente. É que também o poeta vive humildemente, com necessidades. Não só de bens materiais, mas sobretudo de reconhecimentos. |
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