segunda-feira, 23 de maio de 2011

A MÁFIA SOCRÁTICA


"Não falimos por um milagre”


José António Saraiva, director do semanário ‘Sol’, revela ao CM que o Governo o 
pressionou para não publicar notícias do Freeport e que depois passou aos investidores.
Correio da Manhã – O ‘Sol’ foi coagido pelo Governo para não publicar notícias
 do Freeport?


José António Saraiva – Recebemos dois telefonemas, por parte de pessoas próximas 
do primeiro-ministro, dizendo que se não publicássemos notícias sobre o Freeport os 
nossos problemas se resolviam. 


– Que problemas?


– Estávamos em ruptura de tesouraria, e o BCP, que era nosso sócio, já tinha dito que 
não metia lá mais um tostão. Estávamos em risco de não pagar ordenados. Mas 
dissemos que não, e publicámos as notícias do Freeport. Efectivamente uma linha de 
crédito que tínhamos no BCP foi interrompida. 
– Depois houve mais alguma pressão política?


– Sim. Entretanto tivemos propostas de investimentos angolanos, e quando tentámos 
que tudo se resolvesse, o BCP levantou problemas. 


– Travou o negócio?


– Quando os angolanos fizeram uma proposta, dificultaram. Inclusive perguntaram o 
que é que nós quatro – eu, José António Lima, Mário Ramirez e Vítor Rainho –
queríamos para deixar a direcção. E é quando a nossa advogada, Paula Teixeira da Cruz, ameaça fazer uma queixa à CMVM, porque achava que já havia uma pressão por parte 
do banco que era totalmente ilegítima. 


– E as pressões acabaram?


– Não. Aí eles passaram a fazer pressão ao outro sócio, que era o José Paulo Fernandes. 
E ainda ao Joaquim Coimbra. Não falimos por um milagre. E, finalmente, quando os 
angolanos fizeram uma proposta irrecusável e encostaram o BCP à parede, eles 
desistiram.
– Foi um processo longo...
– Foi um processo que se prolongou por três ou quatro meses. O BCP, quase 
ironicamente, perguntava: "Então como é que tiveram dinheiro para pagar os salários?" 


Eles quase que tinham vontade que entrássemos em ruptura financeira. Na altura quem 
tinha o dossiê do ‘Sol’ era o Armando Vara, e nós tínhamos a noção de que ele estava 
em contacto com o primeiro-ministro. Portanto, eram ordens directas.
– Do primeiro-ministro?


– Não temos dúvida. Aliás, neste processo ‘Face Oculta’ deve haver conversas entre 
alguns dos nossos sócios, designadamente entre Joaquim Coimbra e Armando Vara.
– Houve então uma tentativa de ataque à liberdade de imprensa?


– Houve uma tentativa óbvia de estrangulamento financeiro. Repare--se que a 
Controlinveste tem uma grande dívida do BCP, e portanto aí o controlo é fácil. À TVI 
sabemos o que aconteceu e ao ‘Diário Económico’ quando foi comprado pela Ongoing 
– houve uma mudança de orientação. Há de facto uma estratégia do Governo no sentido 
de condicionar a informação. Já não é especulação, é puramente objectiva. E no 
processo ‘Face Oculta’, tanto quanto sabemos, as conversas entre o engº Sócrates e 
Vara são bastante elucidativas sobre disso.


– Os partidos já reagiram e a ERC vai ter de se pronunciar. Qual é a sua posição?
– Estou disponível para colaborar.




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