De acordo com os jornais, uma antiga secretária de Estado de um Governo do PS disse mal do atual Governo do PS. Espera-se que os jornais publiquem apenas notícias, e dizer mal do atual Governo do PS não constitui novidade. Um jornalista que aponte um gravador à boca de um cidadão qualquer, escolhido aleatoriamente, arrisca-se a voltar para a redação com críticas um pouco mais azedas que as da antiga secretária de Estado. E, desde que membros do atual Governo do PS, como Jorge Lacão, avançam com propostas que desagradam tanto aos seus colegas de Governo como à bancada parlamentar do partido, não deve faltar, dentro do atual Governo do PS, quem tenha vontade de dizer mal do atual Governo do PS. Onde está, então, a novidade das declarações de Ana Benavente? No facto de constituir a primeira tentativa séria para caracterizar ideologicamente o atual Governo do PS - esforço a que ainda nenhum politólogo se tinha atrevido.
Deste Governo do partido socialista sabíamos apenas que não era socialista, mas era difícil ir para além dessa certeza. De acordo com Ana Benavente, o Governo de Sócrates é neoliberal e leninista. Ou seja, o equivalente político àquilo que, em gastronomia, seria um prato de bacalhau com mousse de chocolate. Mas confecionado com um bacalhau mal demolhado e uma mousse de pacote. É interessante notar, antes de tudo, o modo como o Governo de Sócrates não agrada sequer a quem aprecia bacalhau mal demolhado e mousse de pacote. O problema não é a mistura dos ingredientes, uma vez que, segundo Ana Benavente, o bacalhau está separado da mousse: Sócrates é leninista no PS e neoliberal no País. O problema é que os leninistas querem que ele seja leninista em todo o lado, e os neoliberais querem ser eles a aplicar o neoliberalismo. Isto de facilitar a vida a um pequeno grupo de gente poderosa para que este possa controlar quase toda a vida económica do País é como o hóquei em patins: é mais giro fazer do que ver.
O diagnóstico de Ana Benavente é, além de pouco ortodoxo, discutível. A ser verdade que Sócrates é leninista no PS, poderemos estar a assistir a um momento histórico: os militantes do PS são das poucas pessoas que parecem estar satisfeitas com o seu líder. Creio que é a primeira vez que um regime leninista consegue trazer a felicidade a uma população tão alargada. No entanto, depois de identificada a natureza leninista e neoliberal de Sócrates, é mais fácil determinar o perfil do político que o pode derrotar. Neste momento, é evidente que Portugal precisa de um democrata-cristão maoísta que ponha isto tudo na ordem.
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