Por Lucília Galha e Rita Garcia
Há 100 anos, as notícias traziam todos os pormenores. Mesmo todos. Não se falava numa pessoa sem dizer a sua filiação e morada exacta; os jornalistas davam opinião sobre os crimes e condenavam os “patifes” a levarem chibatadas; havia mulas nos perdidos e achados e também se anunciavam negócios com dentaduras velhas! Leia, no português em que foram publicadas, as notícias mais estranhas de 1913.
Jornal 'O século'
O homem com o olho vazado
5 de Janeiro “Nos números 183 e 186 da R. Maria Pia residem, no 2.º andar d’aquele prédio, o boletineiro de 2.ª classe José Rodrigues e, no mesmo andar do 2.º número, um indivíduo que é contínuo na escola central n.º 6, duas creaturas que não se podem ver por causa de uma questão que tiveram há tempos.
N’essa contenda, o boletineiro encheu a cara de bofetadas ao contínuo, o qual jurou vingar-se solenemente da afronta, logo que tivesse vagar e ocasião oportunos.
Pois ontem o acaso quiz que os dois indivíduos se encontrassem na rua onde vivem, ambos recolhendo já a suas casas, de volta do trabalho. Mediram-se de alto a baixo, insultaram-se, cresceram um para o outro e quando o boletineiro ia para desatar sobre o antagonista uma saraivada de socos, este pôs-se em guarda, esgrimindo doidamente um guarda-chuva de que ia munido.
No meio da luta, n’uma das estocadas vibradas pelo contínuo, a ponteira do guarda-chuva, atingindo um dos olhos a José Rodrigues, penetrou ali deixando-o num estado lastimoso. Enquanto o agressor se punha em fuga, o agredido era levado pelo guarda 350 ao hospital de São José, onde o médico de serviço, sr. Dr. Medeiros de Almeida, auxiliado pelo enfermeiro Rocha, verificou que ficara cego o atingido. Operado imediatamente, o ferido recolheu à enfermaria de Santo António.”
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